Muitos motoristas banidos pelas plataformas compram cadastro ilegal, com dados de outra pessoa, e continuam rodando; reportagem recebeu denúncias
Se você é usuário de aplicativo de transporte, fique atento! Um golpe que tem sido comum é a compra ilegal de dados para atuar como motorista de app. Por trás do perfil falso, estão condutores barrados na plataforma por reclamações de passageiros ou outros motivos – e que encontram na ilegalidade um meio de continuar trabalhando –, mas podem estar também pessoas mal-intencionadas e criminosos.
A fraude evidencia grave falha na segurança dos aplicativos e na fiscalização e coloca em risco a vida de quem pede a viagem e, muitas vezes, nem percebe que a foto e o nome do motorista que aparecem na tela do celular não correspondem à identidade de quem dirige.
Em Belo Horizonte, a fraude foi denunciada ao Super por diversos motoristas de aplicativo. Quem assumiu ter adquirido dados de terceiros alegou que a plataforma exclui motoristas sem aviso prévio e que o temor pela decadência financeira levou à entrada no mercado ilícito. “Dirigir é minha segunda renda. Faz muita falta. Por isso, ao ser banido, não pensei duas vezes e me aventurei na compra de dados”, disse um dos condutores, que afirmou não ter tido o retorno da empresa de aplicativo sobre o motivo do cancelamento.
Pelo relato dos motoristas, há muitas fraudes dessa natureza em BH. Porém, a Polícia Civil de Minas Gerais informou que, atualmente, não há nenhuma ocorrência sendo investigada. Já em 2019, foi descoberto um esquema criminoso na capital mineira, que teria credenciado ao menos cem motoristas fake. Dois irmãos, de 29 e 31 anos, foram presos acusados de falsificar os cadastros. O crime foi descoberto porque um motorista, com perfil fraudado pelos irmãos, teria estuprado uma passageira.
Neste mês, em Goiás, condutores com passagens pelo sistema penitenciário foram detidos por usarem contas falsas nas plataformas de viagens. O delegado Humberto Teófilo, que investiga o caso, alerta que cadastros falsos são porta de entrada para organizações criminosas especializadas em crimes diversos (tráfico, furtos, roubos, clonagem de cartões, sequestros e estupros).
Conta fake custa de R$ 500 a R$ 1.000
O esquema de compra de dados em BH se dá nas redes sociais, conforme motoristas ouvidos pelo Super. Os vendedores são identificados por apelidos. Um dos mais utilizados é “Malvadão”. Também circulam nos grupos dos motoristas de aplicativo contatos de WhatsApp de quem vende os dados. Muitos têm DDD 21, do Rio de Janeiro.
Os valores para obter uma nova conta em nome de outra pessoa podem variar de R$ 500 a R$ 1.000, e as transações são via Pix. Em menos de quatro horas, o motorista acessa o cadastro fake. “É muito fácil. A conta já vem habilitada e pronta para ser usada. Quando você entra em contato com os falsificadores, o único documento que pedem são as informações da CNH. Ela fica atrelada aos dados falsos pela obrigatoriedade de provar que a habilitação está cadastrada como atividade profissional de motorista. Mas já ouvi casos de não precisar enviar informações da habilitação”, contou um motorista ao Super.
Muitos condutores banidos recorrem a conhecidos, que emprestam dados para o cadastro forjado. “Meu amigo era taxista e perdeu o emprego. O cadastro dele não foi aceito pela plataforma. Ele rodou muito tempo com o meu nome. Não imaginava que estava compactuando com um crime”, disse um mineiro.
Fonte: O Tempo