Concessionárias oferecem descontos em busca de clientes que desejam modelos mais caros do que os que se enquadram no pacote de incentivos do governo federal

Várias montadoras de veículos decidiram aproveitar que as concessionárias estão cheias nos últimos dias, após o governo federal anunciar na semana passada uma isenção de impostos de até R$ 8 mil para a compra de carros novos que custam até R$ 120 mil, e também reduziram os preços de alguns modelos vendidos acima desse valor. A estratégia é tentar ganhar no volume de vendas e não comercializar apenas os carros mais baratos.

A Hyundai, por exemplo, está com muita procura pelo HB20 Sense 1.0, carro cujo preço caiu de R$ 82.290 para R$ 69.990. Mas o Creta, que custava R$ 132.890 até semana passada, atualmente é vendido a R$ 127.890. Segundo os vendedores da concessionária Autoville, em Contagem, o desconto de R$ 5 mil foi concedido pela própria fabricante. Durante a manhã dessa terça-feira (13), 15 pessoas ligaram para agendar visitas e uma delas estava interessada no Creta. Todas as outras queriam o HB20.

Adotando um método parecido, a Jeep conseguiu vender todo o estoque do Renegade Sport em Minas Gerais. O carro custava R$ 134.990 até poucos dias atrás. A montadora deu uma bonificação de R$ 15 mil e o veículo passou para R$ 119.990.

Com a mudança de preço praticado pela Jeep, o Renegade Sport entrou na faixa abaixo de R$ 120 mil e ganhou mais um desconto de R$ 4 mil pela isenção dos impostos federais – IPI e PIS/COFINS. Ou seja, um carro que era vendido por R$ 134.990 caiu para R$ 115.990. “Nós tínhamos dois no estoque da loja e foram vendidos rapidamente. Não tem mais em lugar nenhum”, confirma o gerente de vendas da Roma Jeep Contagem, Edilberto Lipinski.

Com o sucesso nas vendas do modelo Sport, a Jeep também reduziu o preço do Renegade Turbo, o modelo de entrada da marca. O carro custava R$ 124.990 e passou para R$ 115.990, com desconto de R$ 5 mil da montadora e mais R$ 4 mil do governo federal

“A procura está bastante intensa. De quarta a sexta-feira da última semana, foram mais de 200 leads (consumidores em potencial) pela internet. Esta é a melhor oportunidade de comprar um Jeep Renegade. Com o preço atrativo, o momento é agora”, afirma Lipinski. Segundo ele, o modelo Turbo é bem parecido com o Sport e tem apenas dois itens a menos: as barras de teto e o bagagito, aquela tampa do porta-malas.

“O (Renegade) Turbo tecnologicamente, na motorização, é o mesmo carro do Sport”, diz o gerente da concessionária da Jeep. E na Roma, havia apenas cinco unidades do modelo Turbo no estoque nesta terça-feira (13).

Também buscando um aumento das vendas de veículos acima da faixa de isenção proposta pelo governo federal, a Roma Fiat decidiu oferecer condições especiais para o Fastback, modelo que foi lançado no fim do ano passado e é um dos mais procurados pelos clientes que buscam carros mais completos da marca. Ele custa R$ 133.990, mas o interessado pode dar 60% de entrada e dividir o restante do valor em 36 vezes sem juros. E a pessoa que levar esse veículo também pode conseguir um desconto ou mais itens opcionais.

“Eu não deixo a pessoa sair sem comprar, pode vir que a gente faz negócio”, avisa o gerente da loja, Flávio Zolio. O Fastback é o único SUV Coupé totalmente brasileiro, com motor fabricado em Minas Gerais, e tem a mesma tecnologia dos modelos importados.

Outra concessionária que reduziu o preço de um modelo um pouco mais caro do que R$ 120 mil foi a Jorlan da avenida Barão Homem de Melo, no bairro Estoril, região Oeste de Belo Horizonte. O Tracker, SUV da Chevrolet que custava a partir de R$123.490, está com desconto especial de R$5 mil, oferecido pela própria loja.

Estratégia busca vendas para a classe média

A estratégia das montadoras e concessionárias em dar descontos para a compra de alguns modelos que custam mais de R$ 120 mil busca atender à parcela da classe média que queria trocar de carro neste período, na avaliação de Gustavo Viana, diretor regional da Becomex, empresa brasileira que presta consultoria para diversas montadoras de veículos no país.

“Face ao pacote divulgado pelo governo, as montadoras vêm numa tentativa também de buscar uma maior saída de alguns veículos, mesmo que não façam parte ali daqueles mais populares, como é o caso do Renegade e do Creta. Esses carros, por mais que tenham um valor agregado um pouco maior, se enquadram dentro do modelo de eficiência enérgica por ter um motor flex. Eles têm também um índice de conteúdo regional adequado, inclusive as montadoras tiraram alguns opcionais que tinham um conteúdo importado um pouco maior para se adequarem ao pacote e aí é uma tentativa maior de ‘abraçar’ a classe média, que queria trocar o carro nesse momento”, analisa Viana.

Ainda segundo o especialista, a tática pode dar certo. “Por mais que haja um pacote com um viés social de tentar buscar as classes mais baixas, essa tentativa também de adequar esses veículos um pouco mais caros pode beneficiar a classe média”.

O diretor da Becomex criticou apenas o limite de R$ 500 milhões de isenção de impostos federais, que pode levar o pacote de incentivos a durar apenas 30 dias, prazo bem menor do que os quatro meses previstos pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. “Teremos um aumento no volume de carros vendidos de forma momentânea, mas não será algo que realmente resolva um processo de reaquecimento econômico, como era proposto pelo governo”.
Fonte: O tempo